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Neurociências + Educação e o necessário respeito a própria criança

  • Writer: Felipe F. Freitas
    Felipe F. Freitas
  • Nov 30, 2019
  • 2 min read

De uma entidade extracorpórea, sede da alma e com um funcionamento mecanicista, o cérebro, ou melhor, o sistema nervoso ganhou um volume expressivo de trabalhos, pesquisas e estudos principalmente a partir dos anos 90, chamado de “década do cérebro”. Dai em diante, cada vez mais, tenta-se uma maior compreensão dos processos que envolvem as transformações físicas e funcionais do sistema neural e seus desdobramentos na vida do homem no decorrer do seu desenvolvimento desde o período intrauterino até as idades mais avançadas.

Descontrói-se, assim, a ideia de um cérebro como um depósito estático, de mudanças lineares e homogêneas, para um atual entendimento teórico de sua complexa plasticidade, sendo capaz de modificações estruturais e funcionais pela relação dinâmica e constante da maturação fisiológica com o ambiente, de forma variada e em diversos níveis. Com isso, através das experiências, principalmente as mais precoces com extensão até a adolescência, decorrem modificações qualitativas neurais, com amplas conquistas e com repercussões em processos futuros.

Atualmente, diante de uma maior divulgação das informações, sabe-se que estimulações ocorridas em determinados períodos oportunizam um maior ganho na aprendizagem. Com isso, educadores e pedagogos, entendendo a riqueza desse campo de conhecimento, passaram a ter interesse pelas neurociências com o objetivo de uma melhor compreensão do processo ensino-aprendizagem e uma possível aplicabilidade em suas salas de aula.

Porém, não retirando a importância desse diálogo entre as áreas, observa-se ainda construções iniciais de como essa colaboração pode realmente corroborar com as efetivas práticas educacionais. De como as investigações e descobertas neurocientíficas serão aplicadas à educação de maneira ampla e eficaz.

Mais que isso, acende-se um sinal de alerta, para uma necessária cautela quando lidamos com preocupações em demasia com as habilidades curriculares e com a qualificação e preparo para o futuro profissional de sujeitos ainda crianças. Atualmente, o verbo estimular aproximou-se muito do verbo ensinar, onde a criança continua sendo receptora de saberes, existindo, muitas vezes, uma hiperestimulação.

E assim, nos descolamos do presente, das demandas da própria criança, e até mesmo, das próprias neurociências, que compreendem a importância da motivação e curiosidade no processo de aprendizagem. Da necessidade da construção de uma educação mais criativa e conectada aos contextos atuais. O nosso cérebro é predisposto a aprender, mas sua disponibilidade/ disposição é proporcional ao reconhecimento de sua valia. E essa régua, essa medida, é do próprio infante. E pode ser localizada no brilho dos seus olhos, no entusiasmo que aparece no seu corpo, nas suas múltiplas e multifacetadas perguntas. Pois, se não, teremos apenas uma variação de formas para a apreensão de conteúdo tanto na infância, quanto na adolescência. E os espaços escolares continuarão distantes do seu principal público.

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