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Em tempo de pandemia, como estão as crianças?

  • Writer: Felipe F. Freitas
    Felipe F. Freitas
  • Mar 19, 2020
  • 3 min read

Nesse cenário de pandemia, a palavra quarentena já causa um misto de sensações e sentimentos nos adultos. E, em uma escala de preocupação, existem as inquietantes extremidades. De um lado extremo, os adultos rebeldes, que burlam as recomendações ou ainda negligenciam as medidas que respeitem a coletividade, e do outro, os que estão em pânico, que superdimensionam notícias, transformando qualquer suposta informação em corrente de whatsapp, e por vezes, tomam atitudes individualistas que acabam por demonstrar, também, descuido com o próximo.

Mas voltando a pergunta do título: Como estão as crianças? E partindo do entendimento que as medidas de isolamento social são necessárias e avaliadas constantemente, o quanto os pequenos sujeitos, aqueles que tiveram suas aulas e outras atividades suspensas, reagem a isso? Afinal, eles não são simples objetos que tiramos “dali” e colocamos “aqui”. Eles escutam e observam as falas/movimentações diferentes dos adultos. E quando não participam (não são incluídos), montam seu quebra-cabeça da maneira que é possível para eles.

Este texto surge da minha costumeira inquietação e crença na capacidade infantil, somada a uma despretensiosa conversa com uma conhecida que contou-me que seu filho, no momento em que soube da paralisação das aulas, vibrou, dizendo: “oba, férias!”.

Assim, se você não está na polaridade da régua entre negligência e pânico, como lidar nesse momento com a criança? Como trazer, de maneira que elas compreendam, a realidade da situação?

Crianças pequenas, mesmo aquelas que não vivenciam casos crônicos de saúde, já conhecem, por conta da sua própria experiência, viroses e gripes, suas e de seus pares, que os afastam do ambiente escolar. Agora, como entenderem que mesmo elas se sentindo bem, cheias de energia no corpo, elas precisam seguir esse ritual de não irem as escolas? E pior, estarem bem e não poderem ir as praças, plays, brincarem com amigos, estarem com os avós.

A casa, em ambas as situações, continua sendo uma referência de espaço de cuidado. Os responsáveis também. E mais uma vez, podemos recorrer ao lúdico, para clarear seus entendimentos. E a medida é a de cada criança. Casas tornam-se fortalezas. O vírus, um possível inimigo. E, enquanto família, cabe-nos refletir o quanto somos capazes de fortalecer nossos muros. Como proteger, por exemplo, os avós, reis e rainhas mais velhos? E a lavagem das mãos? Essa pode, inclusive, ficar mais lúdica. Colocar guache nas mãos das crianças e juntos verem o quanto elas conseguem deixar sem nenhuma sujeira.

Com as crianças mais velhas e adolescentes, diante do acesso maior a rede de informação, podemos atuar nas dúvidas, mostrando fontes confiáveis, como o Ministério da Saúde e a Fiocruz, nos colocando mais disponíveis. Entendendo que esse momento é de incertezas para todos. Então, sejamos empáticos, pois não existem fórmulas mágicas.

P.S.: ao escrever este texto, penso em uma série de outras questões que se abrem diante dessa nova situação. Fragilidades que existem em um país cheio de desigualdades. Por exemplo, qual rede cada família conta? Afinal, estabelecer o fechamento das escolas, por vezes, gera muitas outras situações problemáticas para as famílias, como não ter com quem deixar as crianças, já que muitos, muitos, muitos responsáveis ainda continuam trabalhando. E aquelas que a rede são os avós? Ou mesmo, que os avós moram junto? Outro ponto é que muitas casas acabam não sendo as lúdicas fortalezas. Pelo contrário, elas são fontes de insegurança, por não terem saneamento básico, acesso a água limpa, etc. São espaços pequenos, divididos entre muitas pessoas. Penso que em um país como Brasil, medidas de quarentena precisam ser pensadas em conjunto com outras propostas sociais.

 
 
 

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